segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Vitimologia e a utopia da igualdade


Aviso: os acentos do meu teclado se rebelaram e nao querem dar o ar da graça. Acrescento o h no momento em que ele se torna indispensavel para a compreensao da frase, nao foi vicio de internetes (tem um circunflexo no ultimo E). Argh! ¬¬


Somos protagonistas ou vitimas do meio em que vivemos?

Os ultimos 30 anos nos dao a clara visao de que a cultura vigente eh a da "vitimologia". Um exemplo bem simples desse conceito eh o sistema de cotas em favor de negros e pessoas menos favorecidas, em geral. Essa especie de agregaçao dos segregados gera, ainda que sem intençao, um conflito duplice: de um lado estao os supostos segregados que adotam a postura de vitimas do meio e das condiçoes sociais e do outro, estao os que aparentam protagonizar a maçada e acabam assumindo a culpa pela desvantagem alheia com certo ar masoquista e por fim, nao passam de mais vitimas.
Partindo desse ponto de vista dividido, cabem algumas reflexoes. Se o ideal de sociedade eh aquele onde a igualdade reina absoluta, qualquer diferenciaçao seria motivo de guerra. Mas ate que ponto esse nivelamento assegura uma convivencia pacifica entre os homens? Vejam a deturpada relaçao entre alunos e professoras, sejam de escolas publicas ou particulares. Hoje ja nao existe uma hierarquia bem definida entre esses dois seguimentos, resultado: alunos sem limites e professores sendo agredidos tanto fisicamente quanto moralmente. Nota-se tambem que as proprias relaçoes entre pais e filhos caminham para isso. Os filhos tornam-se pais na mesma medida que os pais tornam-se filhos, dai a dificuldade de se estabelecer regras dentro do proprio lar (que dira na sociedade como um todo). Claro que estes exemplos estao apenas em ambito interpessoal, nao prolongarei por divagaçoes socioeconomicas porque isso nao teria fim.
Todo cidadao eh igual perante a lei na teoria, ja na pratica, estamos carecas de saber que isso nao acontece ("Ao desconcerto do mundo"...). Entao, se nosso meio eh tao injusto e desigual, previsoes deterministas, como as citadas no livro "O Cortiço", sao totalmente coerentes, certo? Errado. O ser humano, por comodismo e pelo abrandamento de suas proprias penas, se esquece que a postura de vitima eh tao opcional quanto a postura dominadora. Mas e o meu inconsciente manipulado dizendo que Coca-Cola eh melhor que as outras marcas e que a rapariga curvilinea do comercial de cerveja e detentora da "beleza brasileira"? Onde fica a nossa segunda mente independente nisso tudo? Esta comprovado que o neuromarketing e as propagandas subliminares afetam o inconsciente mas isso se da justamente porque o nosso EU, que tanto procuramos decifrar para chegar a uma versao "destilada", eh um produto das escolhas que fazemos e tais escolhas podem ser, primeiramente, inconscientes. A partir do momento que voce consegue reconhecer essas escolhas feitas no escuro, por assim dizer, ai sim podera escolher diferente e chegar ao fundo do seu estimado (ou nao) EU. Partircularmente nao acredito muito nessa essencia individual e na busca desenfreada ao estilo "conhece-te a ti mesmo" de Socrates. Prefiro a concepçao de que o outro me revela e que dele absorvo "todo ceu, qualquer inferno". Conhecer a si mesmo implica conhecer o que o outro contrubuiu para sua existencia. Enfim, nunca lhe disseram que voce e a copia fiel de seu pai ou de sua mae em algum aspecto? Nao estamos livres de influencias externas, nao em primeira instancia. E como diria o saudoso astro do rock: "Tanto imitei Elvis Presley que acabei me tornando John Lennon" (ponto). Fernando Pessoa vai alem citando a frase "Começo a conhecer-me. Nao existo".
Em que posiçao voce e eu, "vitimas" desse sistema capitalista excludente tomamos frente as determinaçoes do meio? E qual a nossa parcela de responsabilidade naquilo que nos queixamos? Sao questionamentos a serem feitos.

*Agradecimentos ao programa Cafe Filosofico por me inspirar a rabiscar este texto e por me tirar da "indolencia suina" que adquiri nessas ultimas semanas de ferias prolongadas.

CAROLina.

7 comentários:

  1. Gostaria de comentar sobre a questão da tal sociedade ideal onde reina a igualdade. Acredito que minha opinião sobre o assunto coincida em alguns pontos com a do psicanalista Ricardo Goldenberg, já que acredito que em certos aspectos, a procura da igualdade exageradamente é até prejudicial, pois acho que a diversidade é extremamente importante para o desenvolvimento de áreas como a cultura, e até a ciência, uma vez que culturas diferentes têm problemas diferentes, logo geram questionamentos diferentes, e são as perguntas que movem a ciência. Vale lembrar que a igualdade é desejável, e importante em muitos casos, mas esses já são citados e analisados com frequência, portanto não o farei agora.

    Ah, ja ia me esquecendo: muito bem escrito o seu texto Carol!

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  2. Não concordo com tudo o que você escreveu, mas Café Filosófico é um programa legal ^^

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  3. Carol, que tipo de droga vc anda usando.
    essa é da boa ! manda as especificações químicas pro tio q to afim de fazer uso terapêutico. !
    KKKK
    bjomeliga !

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  4. Muito interessante! Concordo com o que foi dito: muitas vezes reclamamos de certas coisas que nós mesmos provocamos; mas não por causa disso significa que tudo é nossa culpa. Como você disse, temos parcela desta "culpa" e o restante é determinismo. Machado de Assis retrata isso muito bem em suas obras, nem tudo é genética e nem tudo é cultural, somos equilibrados, perfeitos em nossa imperfeição.
    Excelente texto ^^!
    Ah, aqui é o Zé, caso você não saiba quem é esse tal "Rousebiror" que anda lendo seus blogs xDDD

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