quinta-feira, 23 de julho de 2009

Senso comum à falta de senso.

Ressalva ao "from hell" do primeiro tema como escreveu abaixo, Carol. Realmente, creio que não será um tema breve como nosso queridíssimo 1º carolíngio, Pepino (piadas à parte), então, enceto ao relatar uma coisa que vi à pouco. Assistia ao programa "Debate" da MTV, aquele cujo apresentador, Lobão, quase não interrompe os participantes, e o tema aguçou-me dúvidas: "Baile Funk: Proibição em caso de polícia, ou manifesto cultural ?" Não vou me estender debatendo comigo mesma a solução para o impasse, enquanto nem os grandes nomes da autoridade cultural e legislativa o fizeram, até porque não é esse o tema, mas volto-me ao que chamou minha atenção no geral; durante o programa todo discutiram, mas ninguém parou antes para debater o que afinal pode ser considerado cultura. O significado de Cultura já se tornou senso comum ? Ou melhor, a cultura está inclusa no senso comum ? É nisso que quero focar hoje.
Perdoem-me se minha concepção estiver equivocada, porém, não acredito que possa ser chamado de manifesto cultural (ou arte), algo que não tenha um propósito claro . Quando digo "claro", posso referir-me a vários adolescentes que dançam e cantam "67 patinete abre as perna a gente mete" sem ter conhecimento real do que significa, e defendem seu estilo musical fundamentando-se em palavrões. Isto, eu chamo de senso comum, e não necessariamente quem faz o estilo Funk. Então perguntam: "Mas e movimentos como o dadaísmo, que se fundamentam no não-senso? Não é arte?". Esta pode ser uma sentença sofista na qual vê-se o dadaísmo como o sem-sentido, pelo próprio sem-sentido, enquanto na realidade, é justamente um manifesto contra a falta de racionalidade de um ser que se diz tão racional, e luta por causas pouco pertinentes (exemplos: 1ª e 2ª G.M.). Eu diria que é a arte da ironia descarada, por isso; arte; por esse prol para qual o movimento existe. Prol este, ausente em algumas pessoas que fazem apologia ao crime por pura satisfação pessoal e sem argumentação nenhuma, dizendo ser arte de manifesto contra a merda que o Estado deixa essas pessoas. ("Se eles mandam só merda, vou ser merda também" ? Talvez.)
Porém, é evidente que para julgarmos o funk, a Stephanie, ou a novela das oito, teríamos de acreditar em uma ética congênita, ou seja, inata do ser humano. Não há como discutir o que é fútil, sem antes entender se existe o certo e o errado a priori. Sócrates e Agostinho que me perdoem, mas não creio na teoria do bom e ruim separadamente. Tudo em relação à algo pode ser comum ou diferente, só depende desse algo. Explico. Novelas da globo por exemplo (ou toda a rede globo) é o cúmulo do senso comum para alguns críticos, afinal trata de temas cotidianos, remete superstições e crenças particulares. Porém, para uma pessoa que resume sua vida em afazeres domésticos, e que não teve muitas experiências diversas em vida, o mocinho que se apaixona pela mocinha não é tão comum assim concordam ? Percebi isto observando minha avó. Ela vibrava, se emocionava, depois ia passar a roupa, depois dormir. Foi aí que pensei: "Por que eu tiraria o único atrativo que ainda lhe resta e que trata de coisas que ela queria ter vivido, mas não viveu, queria ter conhecido, mas não conheceu ?" A cultura dela dizia que sexo era pra depois do casamento (percebe a cultura inclusa no senso comum ?), já na novela, ela o vê sem muito alarde, logo, não deixa de ser algo diferente para ela. Contudo, o caso de um adulto que abre mão de conhecer coisas reais para ficar em frente aos fótons e píxels é diferente, e este leva então o título de "proliferador do senso comum", não pela novela ou programa em si ser maléfico, mas sim, porque esta pessoa não sabe retirar algo proveitoso daquilo (mesmo que seja pouco - muito pouco, mas enfim), e convenhamos, é tão mais cômodo não questionar demais os impasses da vida real, e dessa forma, vamos cedendo a esse coma.

Ás vezes sinto-me aviltada por perceber que antes de reclamar do senso comum, como muitos fazem (e isso já está quase se tornando comum também, por ironia), eu deveria me manifestar socialmente para mudar e influenciar a educação e cultura em meu país. É claro que talvez seria mais rápido para o desenvolvimento crítico da nação, proibir os Bailes Funks, jogar uma bomba no nordeste, ou simplesmente xingá-los de burros no jornal. Mas assim, verei uma pequena semelhança ao crescimento da Alemanha após o holocausto, o que torna a idéia menos atrativa. Afinal, o que dirá se você faz parte do senso comum ou não, não é a sua crença, mas o que você realiza com ela, não é o que você ouve, mas como você ouve, não é o que você assiste, mas o que você absorve daquilo. Não obstante, se eu quiser, posso tanto aprender coisas novas com um senhor acreano analfabeto que gosta de canções sertanejas, ou com um engenheiro formado no ITA, tudo dependerá de como eu verei as peculiaridades, o comum, arte, ou verdade em cada um deles.

ps. Concordo que a Stephanie é um caso perdido, mas vá lá, sem mais ressentimentos, algum dia eu retiro algo de bom daquilo.
ps.2 PERDÃO pelo tamanho desse livro acima.
ps.3 Crianças, também não façam isso em suas respectivas redações, o máximo permitido são 60 linhas da unicamp.
Obrigada.

(LÍDIA)

6 comentários:

  1. Bomba no nordeste foi bem fascista hein!
    Alguns assuntos abordados eu já tinha em familiaridade, confesso que escritos nessas "poucas" linhas adquiriam valor incomensurável.
    Agora é só aguardar o próximo tema fdp X)

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  2. Sugiro, para o próximo tema, algo correlato :P a serenidade com a qual algumas pessoas levam a vida.

    Adorei acompanhar a construção ;x Voltarei aqui pra me perder nas elaborações que vcs duas tecerem, com certeza!

    ;**

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  3. ADOREI CAROL E LÍDIA!

    parabéns!

    vou acompanhar!

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